quinta-feira, 30 de outubro de 2008

COROINHA


A missa era rezada em latim. O Padre, sempre o Frei João, e, algumas vezes, o Frei Elias, de frente para o Santíssimo e de costas para os fiéis. Era assim.

Nós, os coroinhas, éramos em seis ou sete. Tinha o Lúcio, o Roberto, o Gilberto, o José Américo, o Ataliba e outros. Havia, entre os coroinhas, uma hierarquia. Os que sabiam responder toda a missa e os outros, entre eles eu, que capengava em partes como o “sursum corda”, o “confiteor” e na liturgia complexa de algumas cerimônias religiosas especiais.

Para a missa das nove, aos domingos, os melhores eram escalados. Eu era salvo pela minha incompetência. Ajudava na missa das seis e às nove já podia estar jogando ping-pong no salão paroquial, fumando escondido ou participando de um jogo no campinho de futebol perto da Santa Casa.

A missa das nove era dos “ricos” e o sermão que o Frei João pregava era transmitido, por alto-falante, para toda a praça. Ouviam os fiéis de dentro da igreja e os maridos que só iam à igreja para fazer companhia às suas mulheres e ficavam nos bancos da praça central. Hoje, eu penso que, pelo tamanho de Pedra Negra e pela potência dos alto-falantes, não só a praça era beneficiada pelo serviço, mas, sim, toda a cidade. Talvez só não desse para escutar lá na Bela Vista e no bairro das putas - eram duas -, perto do cemitério.

Às vezes, não tinha ping-pong ou um futebolzinho para jogar e ficávamos fumando escondido, nos bancos da praça. Ouvir o sermão do frei João, na praça, era, para mim, um enorme sacrifício. Eu tinha um grande amigo, o Romeu, que era espírita, e o sermão da missa das nove era, quase sempre, um estraçalhar o espiritismo e dizer gatos e sapatos do Allan Kardeck. Quando eu comecei a namorar a Cidinha, filha do Seu Mário, que era o “médium” do centro espírita, a situação era ainda mais constrangedora.

Para ajudar a missa - era assim que se falava -, disputávamos, os coroinhas, a ordem de entrar no altar. Essa ordem, se atrás ou na frente do padre, era que determinava o lado - esquerdo ou direito - em que ficávamos no altar e as conseqüentes tarefas atribuídas a cada lado.

Assim, quem ficava do lado esquerdo segurava a bandeja na hora da comunhão. Segurar a bandeja, enquanto o Frei João distribuía a hóstia santa, me conferia uma autoridade singular. Era a hora em que se podia ver as línguas enormes dos fiéis, amigos ou inimigos, amados ou odiados, parentes ou não. Ficavam todos lá, com a língua de fora e os olhos fechados, à espera da hóstia santa, e eu, ao lado do padre, todo importante, segurando a bandeja para que partes do corpo santo de Cristo não fossem ao chão.

Antes da missa, havia filas para a confissão. Depois que eu fiz a primeira comunhão e já sabia mais dos pecados, ficava horrorizado ao ver algumas pessoas comungando sem se confessar: a mocinha que ontem à noite, no clube, estava no maior agarra-agarra com o namorado e, mesmo, aquela mulher casada, que eu – toda a cidade sabia - havia visto em pouca vergonha com outro homem também casado, que não era o seu marido e que, agora, meu Deus do céu, recebia de olhos fechados a santa hóstia.

O Gilberto, coroinha amigo meu , em conversa supersecreta, falava de sua mãe: havia ouvido sons estranhos e respirações ofegantes, ainda de manhã, no quarto dos pais, e agora, sem se confessar, estava lá sua mãe comungando. “Casada e com o marido pode”, afirmava eu, solenemente e com a mais alta autoridade.

Assombro maior aconteceu comigo um pouco mais tarde. Não me lembro se ainda era coroinha, mas, com certeza, ainda amigo do Frei João. Uma noite, após a reza das sete, ficou claro que minha prima estava em sua casa. Havíamos subido juntos a rua Rio Branco até a igreja. Dali, antes da cerimônia, foi com Frei João para a casa paroquial. Lá, todas as luzes ficaram acesas por algum tempo e padre amigo voltou sozinho para a igreja.
Frei João não se confessou e, na manhã seguinte, todo senhor de si, dizia a santa missa das seis, bebia o sangue ... e o corpo do Senhor. Assisti à missa e fui jogar bola.
Dentro de mim, o orgulho de saber do maior segredo da cidade. Segredo que não me fora não contado por algum amigo, nem mesmo pelo Chupança, que de tudo sabia, mas descoberto por mim mesmo; meio sem querer e sem nenhuma competência de detetive: apenas o acaso e a falta de cuidado dos dois os haviam denunciado.

Prometi a mim mesmo manter segredo e convivi com ele, às duras penas, por um longo e interminável mês. Uma noite, fui dormir na casa de um primo e não agüentei: contei. No meio do relato, secamente, o Maurício disse que já sabia. Aproveitou e me contou também do Frei Elias com a Vera. Esta eu também já sabia, desforrei.
No dia seguinte, fui contar ao Antônio Henrique: também já sabia.
Meu irmão, o André, também já sabia e me falou de outros encontros dos dois.
- “Onde?”
- “Lá na casa da Tia Júlia”.

Parei de contar meu segredo.

Todos já sabiam.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Meus tipos inesquecíveis



Gostava, e muito, de ler as Seleções, do Reader’s Digest. Eu tinha um vizinho, muito amigo, que, rotineiramente, a comprava, lia e me emprestava, quase sempre dois dias após a compra: nova, limpinha, capa brilhante, colorida, linda.

Uma delas, lembro-me bem, trazia, na capa, o título Glaucoma, o halo terrível e descrevia os males da, na época, pelo menos, incurável doença, que tinha, entre seus diversos sintomas, um que era o de enxergar um arco íris em volta da lua, motivo, aliás, da inesquecível ilustração que ornava aquela capa: uma belíssima lua cheia, circundada por um colorido arco íris. E eu, em noites de lua cheia, ficava a olhar a lua, para ver se havia o arco íris em sua volta. Na semana de lua cheia em que via o arco íris em volta dela eu me sentia com glaucoma, o que me entristecia muito. Havia vezes em que o arco íris não aparecia em volta da lua cheia: Santa Luzia havia me curado, a boa Santa havia atendido às minhas preces ... ou tinha sido a água benta com a qual havia ungido os olhos? Ou teriam sido as rezas de minha mãe? Talvez fosse tudo isso; o que importava, para mim, é que estava curado.

A Seleções tinha várias seções permanentes: as piadas da caserna, o resumo de alguma obra literária, mas, das permanentes, a que mais me encantava era a intitulada Meu tipo Inesquecível.

Assim que recebia a revista emprestada, pulava todas as seções, desobedecendo aos conselhos de se iniciar a leitura do começo para o fim. Corria para me ajeitar no banco do alpendre da casa onde morava e iniciar, por aquela sedutora seção, a leitura mensal das Seleções. Com isso, a cada mês, um “tipo” diferente me acompanhava até o mês seguinte.

Criança,ainda, eu imaginava o redator da coluna sempre como adulto, o que me levava, entre outras coisas, a me perguntar qual seria, quando também me tornasse adulto, meu tipo inesquecível. Como seria e o que me comoveria tanto a ponto de alguém tornar-se, para mim, inesquecível?

Tio Olímpio era um homem alto, magro, mãos longas, rosto moreno, retangular, com os ossos proeminentes e um sorriso jovial e doce na boca larga, com dentes grandes e amarelos. Havia trabalhado, quando mais jovem, em um curtume, em sua cidade natal, o que era um dos primeiros sintomas de sua futura condição de “inesquecível”. Era demais para mim, nascido e, até aquele momento, sem conhecer nenhuma cidade, por menor que fosse, ter um tio que me punha no colo para contar histórias, que já havia trabalhado, vestido com macacão, em uma fábrica, em um curtume de couros.

Gostava muito de desenhar e foi com ele que peguei gosto para desenhar cabeças de periquitos e de sanhaços, igrejas coloniais cheia de curvas e rococós, paisagens feitas com montanhas negras de pedras e coqueiros repletos de gordos cachos, ladeando casinhas brancas, com suas janelas azuis, à beira de rios e lagos. Fazíamos esses desenhos em velhos cadernos, usando a caixa de lápis, com seis cores, de uma irmã mais velha e, quando a sós, muitas vezes, usávamos como tela a branca e areada madeira da mesa de jantar, onde garatujávamos e sonhávamos com rios, lagos e pescarias. Depois, vinham broncas de minhas irmãs pela “sujeira” que havíamos feito em tão limpa e areada mesa.

Tio Olímpio era famoso pela sua habilidade e prazer de pescar. Mesmo meu irmão e padrinho Dito, famoso, em toda a região, pela paciência, habilidade e, principalmente, conhecimento dos segredos das águas e dos peixes, reverenciava o Tio Olímpio:

- “Igual a ele não tem, sabe demais de peixes, iscas e dos segredos da pesca.”

Um dia, enquanto estávamos desenhando um lago rodeado de árvores, de coqueiros e com uma casinha de sapé à sua margem, ele me contou esta história:

“Lá pelos lados do Baguaçu, onde nasci, há muito tempo atrás, havia um lago enorme, que era a morada preferida de patos selvagens. Não era muito perto de casa, mas, mesmo tendo que andar mais de duas léguas, gostava muito de ir lá caçar patos.

Era um lago de águas claras e transparentes, cercado, em toda a sua margem, por longos e esbeltos coqueiros, por grossas e negras aroeiras, retos e elegantes guatambus e um enorme pé de jambolão. Havia, também, embaúbas, com suas folhas prateadas, onde sempre se via o bicho-preguiça, que vinha comer suas bananinhas. O silêncio naquele lago era absoluto e só era interrompido pelo canto dos pássaros ou, uma vez ou outra, pelo “chuá-tchibum” das águas, provocado pelo vôo e mergulho de grandes peixes, que saltavam à caça de insetos.

Mas lá eu não ia pescar. Eu ia ao lago rodeado de aroeiras, guatambus, embaúbas e coqueiros para caçar patos selvagens. Sabe como eu os caçava? Era assim...

Minha tralha de caça era uma cabaça grande e um saco de estopa. Entrava pelo lago adentro, calma e silenciosamente, pé ante pé, para não fazer nenhum barulho e nem mesmo movimentar suas águas calmas e paradas, para não espantar os patos. Aí, com a cabaça enfiada na cabeça, feito um chapéu, eu ia, silenciosamente, segurando até o barulho da respiração, para o meio do lago, até me juntar ao bando de patos que, gostosamente, nadavam pelas águas, à procura de insetos e peixinhos, que eram seu almoço e seu jantar. Eu ficava embaixo d’água, só a cabeça de fora, enfiada dentro da cabaça enorme, na qual eu tinha feito um furo bem pequeno para poder enxergar.

O pato chefe, grandão e arisco, falava, para todo o bando, na língua deles:

- “Alguém deixou uma cabaça na beira do lago. Esses homens são sempre uns esquecidos. Vêm aqui no lago para pescar e deixam de tudo: cabaças, garrafas de pinga e espigas de milho que servem de iscas; uns porcos.”

Assim, eu enganava os patos, que pensavam que era uma cabaça que boiava no lago e, deste jeito, era muito fácil a caça: aproximava-me de um deles e, puxando-o firmemente pelos pés, afundava-o rapidamente. Segurava-o no fundo d’água até que parasse de se movimentar e o metia no saco de estopa que trazia comigo: ele morria afogado, por falta de ar, e não fazia nenhum barulho, porque no fundo das águas é sempre silêncio.

E assim eu ia pescando, ou melhor, caçando e enfiando patos no saco no saco, até contar sete. Sabia que, se caçasse mais de sete, eles desconfiariam e começariam a fugir da cabaça. Também não devia caçar em mais do que sete dias ao mês, nem antes das sete horas da manhã...

Sabe porque tantos sete? Porque eram patos coloridos com sete cores: do azul escuro ao verde esmeralda...lindos.

Acabou-se a história e morreu a vitória.”

Tio Olímpio foi quem me levou ao cinema pela primeira vez. Bondoso, alertou-me de que era mentira que as carroças e os cavalos passariam sobre nossas cabeças: “estão presos lá na tela branca e de lá não saem.”

Um dia, ele estava bêbado, no bar do Fazico, e fui até lá, alertado por meu irmão:

- “Tio Olímpio está bêbado, com o dinheiro todo que ganhou na colheita de café esparramado pelos bolsos, recitando sua estrofe preferida: “a pinta preta que tu tens no rosto...”

Explicando melhor: Tio Olímpio nunca ficava mais do que uma safra em uma casa. Se trabalhasse na colheita de café, no inverno, no sítio do meu cunhado, ia, depois, trabalhar com meu irmão, na colheita de milho e no plantio do arroz. “Um cigano”, dizia meu pai. Respeitoso e delicado, quando se preparava para partir, ao término de uma colheita, e era interpelado por minha mãe quanto ao motivo de ir embora, dizia: “Não é por nada, Maria, vou lá para o sítio do Dari porque quero um pouco de sossego. Vou para lá, trabalho na colheita do café e depois volto.” Minha mãe se dava por satisfeita e lá ia meu tio embora. Ao fim de cada empreitada de trabalho, recebia seu salário e ia para a cidade, onde bebia por três ou quatro dias seguidos, até quando houvesse algum trocado do dinheiro que havia recebido, e, só a partir daí, buscava outro destino.

Não havia se casado e corriam rumores, entre meus irmãos mais velhos, de que ele havia se apaixonado e tinha sido abandonado por uma bela morena, quando ainda trabalhava no curtume, em Franca, razão de sua permanente queixa quando bebia: “a pinta preta que tu tens no rosto...”

Mas, voltando ao que quero contar...Havíamos mudado para a cidade e, nos fins de cada uma de suas jornadas, Tio Olímpio ficava em nossa casa por uns dias. Chegava alegre, comprava uns tecidos para que minha mãe costurasse calças e camisas para ele e ia para o bar, beber.

E naquele fim de tarde e início de noite, fui alertado, por meu irmão, de que o tio estava bêbado e que, se continuasse daquele jeito, perderia todo o dinheiro que havia ganhado. Lá fui eu para o bar do Fazico. Encontrei-o com a fala mole e embaçada, corpo desengonçado, a careca exposta pela falta do permanente chapéu. Assim que me viu, disse:

- “Quer um doce? Pega um pé de moleque para você.”

E virando para um público inexistente, continuava:

- “Este é meu sobrinho...inteligente e desenha muito bem. Vou pagar os seus estudos na escola de Belas Artes, em São Paulo.”

- “Tio, o senhor não vai me levar ao cinema? Vamos para casa jantar e, depois, vamos ao cinema?”

- “Jantar, não quero...Vamos daqui para o cinema.”

- “Tenho que, primeiro, pedir para o pai, tio. Vamos lá para casa.”
Nada o convencia a sair do bar.

Seu Fazico fez as contas das pingas que ele havia tomado, do sanduíche que havia comido e do pé de moleque que havia me oferecido. Peguei em seu bolso aquele monte de dinheiro enrolado em um lenço sujo, contei, paguei a conta, tomei suas mãos e saímos. Atravessamos o jardim em frente à igreja, em direção ao cinema e, também, de minha casa. Cambaleante, tropeçava nos canteiros do jardim e, baixinho, recitava: “a pinta preta que tu tens no rosto.”
Seus olhos lacrimejavam e eu também chorei.

Não quis ir, de modo algum, comigo, até em casa. Ficou meio dormindo, em um banco do jardim, enquanto corri até minha casa, pedir ao pai para ir ao cinema com o tio Olímpio. Primeiro, foi um solene não; insisti, em mais um pedido, e tive a permissão:

- “Mas não me chegue em casa depois das nove.”

Correndo sempre, voltei ao banco de jardim onde, agora, desajeitada e desconfortavelmente, tio Olímpio dormia.

- “Pai deixou, vamos?”

Tomei suas mãos e lá fomos nós. Comprei os ingressos e sentamos nas cadeiras duras da primeira fila, escolhidas por mim: queria ver os cavalos e as carroças bem de perto.
Tio Olímpio, bondoso, me preveniu: “Não tenha medo: a carroça, os cavalos e os índios não saem da tela, estão grudados lá.”

Dormiu ao meu lado e roncou muito. Outros freqüentadores reclamaram do ronco e eu o cutucava, mansamente.

E assim vi o cavalo branco do Zorro relinchar, índios serem mortos por tiros certeiros, bandidos serem flechados: não tive medo!

As histórias que o Tio Olímpio contava ficavam, para mim, a um milímetro da realidade, fazendo com que eu convivesse com elas por longos tempos, lutando para decidir se eram verdadeiras ou não. Meu irmão me chamava de tolo: “parece bobo, claro que é invenção do tio, seu coiote”. O Homero, este meu irmão um pouco mais velho que eu, lia todos os gibis de cowboys e gostava de imitar os xingamentos que encontrava neles: assim, “coiote” era seu mais novo modo de xingar. Eu ficava implicado com o “coiote”, achando aquilo uma besteira, que era muito melhor xingar de veado do que de coiote e, com isso, acabava me esquecendo da opinião do meu irmão e permanecia com a dúvida: será que dá para pegar patos do jeito que o tio Olímpio conta?

Já as histórias do Diquinho outro querido tipo inesquecível e personagem de outra de minhas histórias eram bem diferentes: decididamente irreais, impossíveis, belíssimas. Eram histórias das Cruzadas, do Ricardo Coração de Leão, dos cavaleiros de Cister, de reis e rainhas, de fadas lindíssimas, em seus vestidos azuis, de lutas para desvendar segredos, de heróis que ofereciam, corajosamente, suas vidas pela obediência a valores, de espadas de ouro com rubis e diamantes na empunhadeira, encravadas em rochas negras...enfim, também eram fantásticas as histórias que o Diquinho contava.

Diquinho era baixinho, magérrimo, vivia com um paletó preto, com as lapelas ensebadas, sobre camisas sujas, abertas no peito magro e coberto de pelos. Era um andarilho: semana aqui, semana ali, vivendo das boas graças e da antiga solidariedade, que não permitia negar pouso e comida a quem se conhecia. Era a alegria da criançada, pelas histórias que contava, que sempre começavam pelo “era uma vez” e terminavam, como as do tio Olímpio, em “acabou a história e morreu a vitória”.

“Era uma vez um rei bondoso, dono de um império que ia longe, muito mais longe, de onde se via o sol nascer e se por. Seu reino tinha montanhas ricas em caça e mistérios, terras planas e boas para o plantio do arroz e do milho, rios de águas límpidas e cheias de peixes deliciosos, e só terminava quando se encontrava, lá muito bem longe, com o mar de águas verdes e praias de areias brancas. Todos os seus súditos o amavam porque eram tratados com muita bondade e respeito. Gostava de quem trabalhava, castigava os ociosos e os ladrões que assaltavam nas estradas escuras de seu reino. Casou-se com uma linda princesa e teve treze filhos. Seus filhos eram lindos, fortes e cheios de saúde...” Mas, isto já é uma outra história.

O que sei é que, até hoje, qualquer concerto de ópera a que assisto me emociona e me faz lembrar dos queridos tipos inesquecíveis: tio Olímpio e o Diquinho. Acho, mesmo, que aprendi a gostar de ópera de tanto ouvir as histórias que eles me contaram.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

“Introito!”

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Até fevereiro deste ano a minha relação com todo e qualquer blog se resumia no seguinte: havia entrado, algumas vezes, no blog do Josias – colunista da Folha de São Paulo – para entender melhor os bastidores do que ocorre em Brasília e no blog do Juvenal, sugerido pelo Jarbas, para apreciar o texto e o humor daquele querido amigo.
Mas era assim: como uma página de jornal, abria, lia e encerrava ali minha relação; não percebia ou não me interessava pelas possibilidades de interatividade dos mesmos.
Foi aí que, lá por volta de fevereiro ou março deste ano, liderados pelo Kuller, um bando de “sessentões” resolveu render uma homenagem em memória aos anos de 68. Por tudo que 68 representou em minha vida me entusiasmei e tive então, além do estímulo do Kuller, o apoio do Jarbas e do Tonhão que, pacientemente, me orientaram em como postar, encaminhar comentários, enfim, relacionar-me familiar e emocionalmente com o ARQUIVO 68, este, o “meu primeiro blog”.
Pensei então, enquanto me iniciava nas postagens de pequenos textos para o ARQUIVO 68, em ter o meu Blog no que fui muito estimulado pela Cássia, minha filha mais velha, fiel e paciente orientadora em como “lidar” com o micro:
- “Pai, blog é que nem diário. Você não escrevia diário?”
Calei-me.
Patrulha existe desde antes de 68....Diário ou era hábito “pequeno burguês” para os amigos da esquerda ou “coisa menor” para a intelectualizada patota do mosteiro: nada a ver comigo ou conosco!
Assim nunca escrevi diário e isso, para mim, não tem a menor importância: não me alegra ou me deixa triste, melhor ou pior; apenas um pouco curioso para “me ver” aos vinte ou vinte um anos como em uma fotografia, as quais, diga-se de passagem, a maioria eu rasguei ou dei outro fim, como provavelmente teria feito com “os diários” que eventualmente tivesse escrito.
Voltando ao assunto: de fevereiro até agora houve dias que eu quis, mas também semanas em que desinteressava completamente em ter o meu blog. Foi um tal de querer e não querer que lembra um pouco a “adivinhação” que fazia quando adolescente – eu continuei com a prática desta adivinhação até um pouco depois da adolescência - de arrancar pétalas das margaridas para saber do querer ou não querer de uma bela menina: bem-me-quer, mal-me-quer...
Abre um parênteses: o Antônio, meu netinho de três anos, quando chegar a hora de fazer a adivinhação do bem-me-quer vai escrever como? Malmequer, bemmequer? A nova ortografia acaba, também, com os hífens entre o bem-me-quer? Fecha o parênteses.
Pois bem, a última pétala da margarida foi um bem-me-quer e a sorte fez, então, nascer o “Ofício: contador de histórias”. Coitado: tão reticente e temeroso em relação ao futuro. Vamos ver.
Uma última palavrinha em relação ao Blog. Havia pensado inicialmente em uns dois ou três nomes e pedi à Cássia que pesquisasse para ver se tais títulos eram possíveis ou se já havia blogs com os mesmos.
A resposta veio por um e-mail:
“Babinho,
Os nomes sugeridos estão ocupados.
Caso não se importe de já existir um blog com o nome igual ao seu, dá-se um jeito de registrá-lo com alguma alteração...Mais uma tentativa, só de curiosidade, por orlandonascimento e achei um cultuador da igreja rompendo fronteiras!!!
O mundo está sendo dominado pelos blogueiros. Junte-se a eles.”
Vou me juntar, filha querida:
INTROIBO AD ALTARE BLOG.
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